Godzilla e Kong: o novo império, Adam Wingard, 2024

Dessas continuações com sensação de déjà vu, Godzilla e Kong: novo império sofre dos mesmos problemas que Godzilla vs Kong sofria em 2021. Mas desfruta de várias das mesmas qualidades também. Respectivamente e de forma mais notável, o excesso de gente e a carência de mais do que tem de melhor, bichos gigantes – ou kaiju pra usar a nomenclatura correta – brigando. 

Wingard, lá e cá, não é nenhum gênio ou algo assim, mas tem essa sagacidade de captar o que tem de melhor nesses filmes e trabalhar com muito esmero na construção dessa parte. O visual. O CGI muito bem lapidado. A humanização dos bichos. Ou melhor, o ato de nos aproximá-los da gente por uma familiaridade na sua construção. Desde o King Kong como esse tiozão de meia idade que já não tem tanto a disposição e a força da juventude até o Gojira enrolado como um gatinho dentro de uma caixa ou, no caso, dentro do Coliseu. 

Nessas, quase dá pra gente se importar de verdade com os pedaços de mitologia. A coisa de Kong como último da espécie. Querendo ver seus semelhantes. Galgando aqui a sua posição de “King” Kong. Enquanto, como em qualquer continuação onde dois personagens pop se enfrentam, eles unem forças para descer a porrada num terceiro. No caso uma versão meio magra e alta do Kong que tem um cristal mágico na ponta de uma corrente que lembra aquela arma de gangue de rua que consiste em um canivete na ponta de uma corrente ou corda. 

Parece que é a coisa mais ridícula ou mais patética mas no fim é a melhor coisa aqui. Dando margem para a briga bem “coreografada” (coreografada por animadores?) entre os macacões e os lagartões. Sobrando espaço ainda para incluir uma manopla que potencializa o soco de Kong. E também um sidekick semi fofo pra ele. Algo como um “Kid Kong”. Enquanto do lado do monstro japonês, rola algo como uma “evolução” que muda a cor do seu raio destruidor de azul para rosa.

Nessa trocação toda, vale reconhecer o quanto o filme não se importa com as vítimas colaterais dos confrontos. Mais focado mesmo em coisas tipo o uso de prédios como armas e no uso das paisagens reconhecíveis como o Rio ou Roma. O que ocorre até quando eles se movem. Tipo quando Gojira nada submerso nos rios italianos e vai sem dó destruindo toda e qualquer ponte no caminho com as suas vértebras protuberantes. Coisas que fazem sentido nessa construção de um mundo povoado por titãs. Deuses. Tão grandes e poderosos que sequer reconhecem a insignificância humana. Que no meio desses confrontos não pode fazer nada muito além de se esconder e esperar passar.

Por outro lado. Retomando aquilo do ‘déjà vu’. Nada do que é feito aqui é muito diferente do que já tínhamos visto no filme anterior. Que aliás era mais bonito não porque o efeito era melhor mas porque conseguiu construir de forma mais visualmente interessante o embate na China. Usando das paisagens ‘megalopolitanas’ noturnas. E com um vilão também mais bonito, a versão robótica do Godzilla. 

Embora lá também existisse a burocracia que é a existência de personagens humanos e toda a baboseira e terra oca; aqui essa parte chata soa mais do que como um pedágio para o que o filme tem de bom, como um obstáculo super complicado sem razão. Com um desenrolar de enredo que vai dar em uma coisa meio Alien vs Predador de tribos antiquíssimas que tinham alguma profecia sobre esses monstros e algum escolhido que ia acabar com a violência e blá blá blá. 

Paralelamente. Com um bocado de atores interessantes e uma trama que faz o mínimo de sentido (dentro desse contexto), as coisas acabam sendo meio insuportáveis. Com diversos arquétipos comercialmente focados em trazer uma audiência diversificada para pagar esse circo – a cientista mulher forte, a menina asiática escolhida, o galã acessível carismático, o alívio cômico. Pessoas que paradoxalmente soam muito mais como seres artificiais do que os bichões de CGI com quem eles dividem tempo de tela.

No fim. Para o bem ou para o mal. É uma repetição que não chega perto de ser um dos melhores ou um dos piores filmes do ano. Pode funcionar para uns – por mim ok –  e não para outros. Mas a sensação é meio a de que esse mundinho já deu o que tinha que dar. Ainda mais com versões próximas e melhores principalmente do Godzilla. Como o magnífico Godzilla Minus One, de alguns meses atrás.

godzilla x kong: the new empire, eua, 2024
direção: adam wingard
roteiro: terry rossio simon barrett jeremy slater adam wingard
fotografia: ben seresin
montagem: josh schaeffer
elenco: rebecca hall brian tyree henry dan stevens kaylee hottle alex ferns fala chen rachel house ron smyck chantelle jamieson greg hatton kevin copeland tess dobre tim carroll anthony brandon wong sophia emberson-bain chika ikogwe vincent b. gorce yeye zhou jamaliah othman nick lawler jordy campbell cassie riley

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