Das coisas menos interessantes que Hitchcock fez na fase de cinema mudo na Inglaterra, esse Easy Virtue tem seus brilhos e seus momentos bem inspirados. A falta de interesse e de alteridade do juiz no julgamento de divórcio que abre o filme é um desses.

A miopia de ver o povo que participa, que faz parte do júri, que assiste, como uma massa disforme. E o uso do monóculo para captar pedaços numa tentativa de se manter acordado. Com um ângulo até bem expressivo da câmera e com um uso bem interessante desse truque de lentes.

Parece pouco, mas é uma síntese de um cinema formal. Criar visualmente momentos que dizem muito mais que a explanação de um tema em forma de trama. Aqui, em um filme que no frigir dos ovos é sobre uma mulher “mastigada” pela sociedade depois de dois divórcios. Perdida no meio daquilo tudo.

Apesar do início promissor, entretanto. E do final de impacto – ela dizendo aos paparazzi: “fotografem! (shoot) Não sobrou nada para matar” – o miolo quer acomodar um romance meio desinteressante e no qual a gente nunca acredita muito.

Só servindo, no fim das contas, para umas tiradas bem boas e que fariam um sucesso tremendo na boca de uma Katharine Hepburn se esse filme fosse de uns 15, 20 anos depois. Quando, depois de instruída a se recolher durante um jantar para não fazer a família rica passar vergonha, ela surge belíssima e triunfante.

Pedaços de um filme que é um tanto desconjuntado mesmo em uma época em que o diretor já demonstrava capacidade de fazer coisa melhor. Mas acho que até os gênios erram de vez em quando.

easy virtue, inglaterra, 1928
direção: alfred hitchcock
roteiro: noël coward eliot stannard
fotografia: claude l mcdonnell
montagem: ivor montagu
elenco: isabel jeans franklin dyall eric bransby williams ian hunter robin irvine violet farebrother frank elliott dacia deane dorothy boyd enid stamp-taylor benita hume ben webster alfred hitchcock

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