Os planos que capturam os pés da protagonista, as cenas da dança sem música alguma, a contradição de um país que busca paz mas se vê preso a uma ideia de anistia. O subtexto das dançarinas na natureza como ninfas. As forças naturais do sol e do mar transpostas para a expressão artística.

Dançando no silêncio tem algo de positivo em esforços inspirados de sua cineasta. Encontra na protagonista algum carisma. Mas não só parte de uma premissa de enredo completamente banal – a bailarina que se machuca e precisa reencontrar sua vontade de dançar e de viver – como também traduz tudo em um naturalismo cansativo.

Na trama, a checklist de sempre do cinema europeu sobre imigração. A tragédia do refúgio do contrabando humano. A vida perigosa na África. O colonialismo do dia a dia. Por mais esforçado que seja: como a ideia dela largar o balé clássico europeu e buscar nos ritmos locais uma forma de renascer.

(SE ELA DANÇA, EU DANÇO fez melhor nesse quesito)

Mas esforços a parte, a estrutura e o desenrolar desse roteiro soa como algo muito automático e que sempre está mais interessado em seguir em frente do que em construir algo formalmente ou tematicamente a partir das cenas. Tanto que logo antes do fim a superação das tragédias vem com cenas quase protocolares. Como se precisasse tirar essa resolução ds frente.

O breve embate com o terrorista e uma cena em um necrotério que cumpre todos os tropos necessários. Como ela desabando em choro, a trilha sonora alta, a mini montagem das cenas de uma vítima dos próprios sonhos.

Ao redor, a diretora faz tudo com um naturalismo que pode funcionar pra muita gente. Um estilo que não é de forma alguma equivocado. Que pode emocionar dependendo da sua conexão ou não com o que acontece. Mas que não por isso deixa de soar como uma saída fácil. Como se o filme fosse pensado só a partir da premissa semi trágica da coisa.

O que não dá pra dizer ser um problema só dela. Já que o circuito alternativo e de festival está tanto preso a essa expectativa da exploração de temas dramáticos contemporâneos acima de qualquer coisa quanto o circuito do cinema comercial está preso a uma expectativa de que os filmes sejam só um conteúdo dentro de um ecossistema de franquias muito maior.

Esse último extremo é muito mais nocivo e deletério que o outro mas não por isso nos permite ignorar a incapacidade criativa do outro.

houria, argélia, frança, 2023
direção: mounia meddour
roteiro: mounia meddour
fotografia: léo lefévre
montagem: damien keyeux
elenco: lyna khoudri rachida brakni salim kissari amira hilda douaouda marwan zeghbib nadia kaci meriem medjkane zahra doumandji sarah guendouz

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