O novo premiado com a palma de ouro de Ruben Östlund é muito similar ao anterior em muitos aspectos. Porque mesmo que o tema central seja diferente, Triângulo da tristeza lembra muito o que The Square fez pela discussão de arte contemporânea mas, no caso, em uma exploração entre a sátira e crítica social foda do capitalismo tardio.
Ambos que, se parar pra pensar, acabam sendo os filmes ideais para a era do Instagram Reels, do Tiktok e do Twitter (especialmente na sua fase liderada pelo apartheid boy Elon Musk). Porque eles soam como um gerador aleatório de fragmentos que são pedaços perfeitos para suscitar o tipo de discussão que essas redes permitem. Isto é. Pouco recurso ou capacidade para aprofundar qualquer assunto, seja porque o vídeo tem que ser curto ou porque o tweet não pode ter mais que uns dois parágrafos. Enquanto requer muito volume em um espaço pequeno e efêmero de timeline ou feed.
O que se tem aqui, é o cinema perfeito para esse mundo. Não porque de alguma forma reflete sobre esse Zeitgeist a partir de um desenvolvimento estético muito particular, mas porque parece que só existe para gerar pedacinhos de discussões amplas.
Criando topos de icebergs que não tem nada por debaixo ou vastos oceanos que revelam a profundidade de uma poça. Isso com frases feitas, discussões literais, metáforas limitadas e situações que parecem tanto geradas por algoritmo quanto a última super produção do monopólio da Disney em Hollywood.
Assim como em The Square, este último existe a partir de uma tentativa de dramaturgia. Com um casal de modelos em três capítulos distintos. Um, injustificável e que nunca entenderei o porquê, que os apresenta da forma mais desinteressante possível; outro em um cruzeiro onde eles fazem parte da super crítica adolescente do cineasta; e um terceiro em uma ilha onde o filme realmente acha que se aprofunda na analogia de sociedade.
Apesar da minha perturbação e das tentativas infrutíferas de tentar entender porque os modelos são eleitos protagonistas, entretanto, não importa realmente quem é quem nesse grupo que popula o filme. Porque o que eles são, afinal, nada mais é que geradores de diálogos dos quais Östlund parece se orgulhar muito. O bate boca entre o capitalista russo e o comunista americano (situação pontuada mais de uma vez porque, nossa, que ideia ‘incrível’); o bate papo do produtor de armas; a discussão num restaurante. E a cereja do bolo: a incrível, impensável, nunca vista antes, metáfora social a partir de um grupo de pessoas em uma ilha deserta.
Amargor à parte, não dá pra dizer que tudo vai pro lixo. O filme até tem situações engraçadas aqui e acolá. O momento em que a esposa do CEO de uma indústria bélica pega uma granada jogada nela e olha para o marido perguntando se a bomba é da linha da empresa deles até pode gerar algumas risadas. Assim como, sei lá, a cena em que uma pessoa divide um peixe com os outros levando em conta o trabalho que teve para pescá-lo.
Fragmentos isolados que funcionam a partir de uma certa comédia do absurdo. (tipo uma discussão sobre descartar uma camisinha em The Square)
Ao redor de tudo isso, porém, não tem muita coisa. E mesmo os bocados mais interessantes têm que concorrer com alguns sofríveis como o bate boca do comunista citando Marx e o capitalista citando Reagan. Ou a coisa de um homem simples pedir um hambúrguer com batata frita em vez dos pratos de gastronomia fina em um jantar de alta classe. O que torna o filme um exercício insuportável de vai e vem de momentos costurados que não são nem aprofundados o suficiente para servir de uma crítica mais séria e nem sagazes e engraçados o suficiente para servirem como sátira.
Triângulo da tristeza pode parecer de longe que quer ser um herdeiro de Buñuel em um cinema crítico e pautado por um quase surrealismo de sua dramaturgia. Mas é só se aproximar um pouco para notar que seu autor não só não chega perto como parece que não tem nada a dizer realmente sobre o assunto. Assim como não tinha sobre a indústria de arte no filme anterior.
E mesmo na parte menos verborrágica e mais focada na construção visual, ele não vai muito mais longe que criar um aspecto de filtro de Instagram numa fotografia plastificada. (Uau! Um filme dourado e com aspecto artificial pra falar de gente rica e falsa.)
No fim, lembra um pouco do recente O Menu nessa exploração metafórica e estilizada de seus temas. Mas a comparação é até injusta porque, por mais que não seja um grande filme também, lá existe um foco e algo a ser dito. Enquanto aqui, o resultado é de vários pedaços de alguma coisa que sequer se montam pra uma obra que revele qualquer aspecto de personalidade por trás.
O que pode ser o que dê a esse filme uma vida longa em páginas, canais e perfis de cinema, arte e política sedentos pelo engajamento nosso de cada dia. Alguém avisa o moderador do Quebrando o tabu?
triangle of sadness, eua, dinamarca, 2022
direção: ruben östlund
roteiro: ruben östulund
fotografia: fredrik wenzel
montagem: ruben östlund mikel cee karlson
elenco: harris dickinson charlbi dean dolly de leon zlatko burić iris berben vicki berlin henrik dorsin woody harrelson jean-christophe folly amanda walker oliver ford davies sunnyi melles thobias thorwid jiannis moustos timoleon gketsos alicia eriksson carolina gynning ralph schicha arvin kananian mia benson stefan gödicke nana manu fredrik quinones filip roséen chidiegwu chidi charlie westerberg erik andersson hamlet talje willoughby victor köhler daniel estehghari alfons miari isak barrow alexander virenhem malte gårdinger alfred lindström augustine kajue william-patrik molvén florand kaufeldt theodor öhrn jin zou david alexanderson olof källström julian redaelli egil ahlenius carl jood chand smith malick afocozi ludvig fast victor norlander anton isaksson brian kamara eric svirins hugo palm simon bredenberg noa del castillo hallberg ann-sofi back robert rydberg robert nordberg charlotte brattin mira uszkureit alex schulman amanda schulman emma warg camilla läckberg christina saliba karin myrenberg faber linnea olsson asta stensson elsa sjökvist johanna ovelius shaniaz hama ali catrin nilsson jacob papinniemi mimmi brundin melodie von sass ellen dixdotter sofia lücke ronja kruus chris westerstrom hedda rehnberg robert martufi hanna oldenburg arnella zetterström sepideh mazloom eric dernsjö nikolas drosopoulos chrysanthi theodosi maria alexiou marilena lampropoulou christos ntoulas nikolas chalkiadakis grace milaszewski melina marksaitis theresa johannesson leocilyn capanas nanette lipponen maria danica herrera maria grace concepcion kristin delfinado shanilou del mundo john michael yadao freedom ziad ahmed robert jomar garry villador deveratturda christopher janiola mario rowen bugtai mohamed lachras taye nathanail athanasios papaioannou alexandros sargologos allen bandiola nicolas refin lontoc rolyn john paul paugio john paulo anne brocklin bergman johnny bergman fredrik wikingsson henrik thott thomas peteus magnus jeansson stefan martikainen britt-marie svensson arash raoufi nafiseh hadizadeh inga hahn lennart hahn linda anborg karina baldock wiking olof myhrman rebecca fager hilde fager emmylou saguindel-holmé ann-marie eriksson pål svensson giorgos kyriakopoulos pavlos laoutaris eva koroli alexia mpogdanou giannis papathymios achilles vatrikas gianna andritsaki dauda coneth beh solo kone yussif zakaria papa cheik jade