De uma premissa bem seca de drama político e seguindo a cartilha de usar um exemplo micro pra fazer refletir sobre o macro, Belas promessas só se sustenta até o fim porque Huppert nos faz comprar a personagem. A prefeita de um distrito de Paris que é levada por alguma obstinação inexplicável de concretizar uma obra em um complexo habitacional. Porque, afinal, ela prometeu.

É um filme de pedaços de reuniões, de encontros com moradores, de acordos feitos em corredores e de jantares e outros eventos. Numa das melhores cenas, em uma apresentação de dança em um teatro lotado, a imagem é a da protagonista com um olhar morto. Completamente fora daquela realidade, tomada pelas preocupações e sem dar a menor atenção ao resto. 

Pra além desse arco da prefeita, o diretor ainda parece buscar muito de leve as questões simbólicas que ele quer trazer pra cá. Um filme sobre um problema de moradia onde dezenas de pessoas se amontoam em uma unidade. E onde a cada duas ou três cenas nós nos vemos nas mansões urbanas onde os tomadores de decisão vivem. Almoços caros na marina, eventos, planos da parte rica de Paris com sua segurança e seus palácios imensos.

Mas não é algo que proponha uma crítica muito direta a essa questão desigual. É algo que exige de quem vê  um esforço para tentar tirar algo de mais de um filme que esteticamente se propõe muito mais desidratado dessa coisa toda. Ancorado em um naturalismo que se dá na falta de cor e nos planos médios com câmera na mão. 

Até porque o foco narrativo parece ser o de uma exploração dos labirintos burocráticos para realizar essa mudança que afeta positivamente a vida das pessoas. Do eleitorado. Uma reforma em um prédio velho que demanda o jogo de cintura e o malabarismo de interesses. O que na teoria é ótimo, na execução é interessante mas no universo de filmes e séries sobre o tema acaba se enfraquecendo. 

Porque é inescapável a lembrança de Ken Loach, de The Wire, até do cinema recifense contemporâneo que se apoia muito na exploração dessas estruturas sociais e políticas da moradia. Obras que buscam muito mais tanto na exploração temática quanto formal. Que por comparação fazem parecer que está faltando alguma coisa nesse filme e que a gente não sabe muito bem o quê.

No frigir dos ovos, sobram os personagens super idealistas. A política tarimbada que põe tudo em risco e o assessor cheio de sonhos fã de Barack Obama interpretado por Reda Kateb. Pontos isolados em um filme que nunca se conecta realmente com seus objetivos maiores.

O que dramaticamente acaba sendo muito pouco no grande esquema das coisas. 

les promesses, frança, 2023
direção: thomas kruithof
roteiro: jean-baptiste delafon thomas kruithof
fotografia: alex lamarque
montagem: jean-baptiste beaudoin
elenco: isabelle huppert reda kateb naidra ayadi jean-paul bordes soufiane guerrab laurent poitrenaux hervé pierre walid afkir stefan crepon vincent garanger anne loiret youssouf wague bruno georis gauthier battoue mama prassinos christian benedetti mustapha abourachid rosita fernandez françois pérache alex andréa brune renault roukiata ouedraogo sébastien deleau laurent mothe cécile ribault-caillol jean seleskovitch philippe dusseau rachel khan jonas dinal elsa bougerie yasmina miksic sladana igic

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