Pensando em McDonagh como um perfeccionista dos diálogos, das situações, de personagens como veículos filosóficos, Banshees de Inisherim é muito feliz na lapidação desse estilo mas nada muito diferente do que vinha antes. Considerando o que existe ao redor disso, entretanto, o filme parece mais ainda um avanço visual em relação aos anteriores. Embora muito disso venha mais do acaso do que de alguma proposição estética muito particular do diretor. Em outras palavras, é seu filme mais bonito – visualmente – e talvez não sua história mais peculiar – “roteiristicamente” (?).

Pegando a premissa simplista e a mesma dupla de Na Mira do Chefe (In Bruges), ‘Banshees..’ é muito uma ruminação da  mesma desavença entre dois amigos que não são mais. Isso quando um deles decide que quer gastar o tempo que lhe sobra na terra para trabalhar em algo que perdure. Se dedicando à sua música. No papel, funciona muito. Um conto sobre como indiferença se converte em ódio. Ambientado em um dos vários períodos difíceis da história irlandesa. 

Na prática, é muito dependente do talento do elenco e da criatividade das situações. A briga que começa com um motivo bizarro, que se eleva, que se expande. Vista sempre a partir do viés do homem simplório que não consegue aceitar a rejeição de um amigo que ele amava. Tudo apoiado nos ombros dos atores e no aspecto de isolamento que o cenário propõe. 

Quando fica nisso, o filme brilha. Quando pensa demais fora dessa lógica, as coisas parecem ruídos. 

Por isso o primeiro ato é o melhor de todos. A tentativa de entender as razões de Colm. O perceber lento da crueldade de sua escolha. As perguntas que isso suscita. As maiores delas: Largar as experiências entediantes, bucólicas e banais para se dedicar à arte não afeta a arte em si? Que tipo de música pode surgir desse vácuo emocional? Sendo que nenhum homem é uma ilha.

Mas depois ou esse drama caminha para uma diluição e natural perda de força do que é proposto tematicamente; ou as coisas começam a soar repetitivas. O que falta, no fim, é lapidar o que existe ao redor desse roteiro já refinado. Apurando mais os aspectos simbólicos que a imagem traz com o isolamento, o som das bombas no continente, o aspecto culpado católico que paira sobre eles, a monstruosidade da indiferença desta relação.

É como se Mcdonagh batesse numa parede formal. Não sabendo como potencializar esses outros aspectos pra suportar o que tem de bom na sua premissa. Ou não querendo. 

Mesmo assim, com uma sensação de não saber como acabar, Banshees ainda termina em uma nota alta com a catarse do fogo e com a violência dos inocentes que são efeito colateral da pendenga. Mas de novo, em mais um filme, a sensação é de que o cinema do cineasta não tem nada demais. Nem na sua melhor forma.

the banshees of inisherin, irlanda, 2022, 2023
direção: martin mcdonagh
roteiro: martin mcdonagh
fotografia: ben davis
montagem: mikkel e. g. nielsen
elenco: colin farrell brendan gleeson kerry condon barry keoghan gary lydon pat shortt jon kenny sheila flitton david pearse bríd ní neachtain aaron monaghan lasairfhíona ní chonaola james eugene carty conor connolly ryan owens john carty oliver farrelly

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