De todos os meandros por onde a adaptação desse personagem já se meteu, A origem do mal é a coisa mais curiosa, mais aleatória e que mais seja um exemplo de filme marcado pelas tendências de mercado dentro da ‘franquia’. Seis anos antes da série que ressuscita o personagem, Peter Webber assina um filme que ao menos busca ter um estilo próprio. Por mais preguiçoso que seja em termos de enredo.
A coisa do passado, a vingança juvenil, os traços orientais. Tudo envelopado em uma violência gráfica que respondia à demanda de então e apoiado na boa interpretação de Gaspard Uliel. E visualmente, por mais que hoje seja feio e na época fosse lindo, o que fica de mais interessante dessa fotografia macilenta bege de Ben Davis é essa ideia de construção de uma Europa oriental meio bege ou dourada.
É um filme que em vários pontos, e isso é uma ideia interessante para esse personagem, tenta materializar as origens de Hannibal Lecter não só como um psicopata mas como o personagem requintado e inteligente que conhecemos nas outras adaptações.
Fazendo certas cenas que existem a partir dessa lógica de descoberta. De cheiros, sabores e sensações de sua juventude. E mesmo aqui, mesmo tentando encaixar, a inserção da família japonesa soa um pouco deslocada e faz mais pensar nessa nipo exploitation da cultura pop da época do que em qualquer outra coisa que faça algum sentido estético ou narrativo. Embora não seja o problema.
O que sobra e o que mais soa como uma desculpa para visitar esse mundo é a trama de Dominic West como um investigador de assassinatos na cidadezinha. É como se o filme não soubesse como movimentar o enredo ao longo da juventude do personagem e, para isso, trouxesse essa história artificial de suspense policial que no fim não vai a lugar nenhum. Não agride mas também não ajuda. E mais e mais soa como uma tentativa de não perder os direitos de adaptação do estúdio do que um filme que busque ser qualquer coisa além disso.
hannibal rising, eua, frança, itália, 2007
direção: peter webber
roteiro: thomas harris
fotografia: ben davis
montagem: petro scalia valerio bonelli
elenco: gaspard ulliel aaran thomas gong li dominic west rhys ifans richard brake kevin mckidd stephen walters ivan marevich helena-lia tachovská richard leaf ingeborga dapkūnaitė martin hub joerg stadler hugh ross robbie kay zdeněk dvořáček timothy walker pavel krátký michelle wade goran kostić charles maquignon denis ménochet nancy bishop jaroslav vízner elsa mollien linda svobodová robert russell beata ben ammar vanesa novakova marek vašut veronika bellová lana likic petra lustigová petr hnetkovský