Ratner é um grande representante do cinema sem sal dos anos 90 e 00s em Hollywood. Típico pau mandado do estúdio, parasita de indústria, exemplo da mediocridade masculina recompensada mesmo que tenha lá seus bons filmes por sorte encontrar bons projetos. Mas se tem algo que esteticamente o define, é algo que parece meio prelúdio do que a Disney/Marvel faz hoje em dia que é, mesmo não tendo uma ideia muito clara ou interessante sobre o tema, fazer filmes visualmente agradáveis e coloridos dentro ou fora de franquias maiores.
Meio que como uma forma de nivelar tudo pelo mínimo aceitável, passando ‘na média’ e permitindo aos fãs desses astros ou personagens duas horinhas bem gastas e sem arrependimento. Melhor que Jon Watts, né. Em Dragão Vermelho a lógica é a mesma. Tudo muito filiado a uma ideia de fazer alusão ao único filme bom de verdade dessa ‘saga’, que é o Silêncio dos Inocentes.
Depois de deturpar toda a identidade com o Hannibal dirigido por Ridley Scott, Dragão vermelho soa como um retorno com o rabo entre as pernas aos tempos áureos da obra-prima premiadíssima de Jonathan Demme. Meio que um exemplo de como a história se repete como farsa da segunda vez.
Não que o filme tenha algum problema sério e periclitante, mas a carência de identidade bate. A intenção de algo só é percebida quando ele quer materializar ecos do filme de 91. Tipo o momento em que Edward Norton passa pela réplica do exato mesmo cenário de Jodie Foster encontrando Anthony Hopkins do outro lado do vidro grosso. Tudo por um fragmento de euforia do fã. Comercialmente visionário, se pensarmos em como isso virou a regra nos últimos anos.
Fora isso, outro ruído que atinge algumas pessoas é pensar que o livro Dragão Vermelho foi tão melhor adaptado por Michael Mann em Caçador de Assassinos de 1986. Filme onde a coisa principal dessa premissa, que é a psicologia quebrada do detetive Will Graham é materializada brilhantemente na composição de William Petersen do personagem e na beleza dos quadros de Mann. E se você viu a série Hannibal, de Bryan Fuller, pior ainda. Mais e mais esse filme parece um decalque.
Mesmo batendo tanto nele, entretanto. Vale notar que aquele método coxinha e desinteressante de ver o cinema de Ratner resulta em boas cenas principalmente quando elas dependem do bom elenco que o filme tem, apesar de tudo.
Norton entrega bem essa versão ‘boa da cabeça’ de Graham e Keitel acerta em não tentar ser Scott Glenn enquanto Hopkins acerta em repetir o que já virou automático pra ele. Philip Seymour Hoffman só faz deixar saudade.
Não só porque deve ser o melhor ator dessa obra mas porque nos faz lembrar da tragédia da realidade a cada momento que concretiza sua atuação corporal completamente entregue em um filme que nem merece tudo isso.
red dragon, eua, 2002
direção: brett ratner
roteiro: thomas harris ted tally
fotografia: dante spinotti
montagem: mark helfrich
elenco: anthony hopkins edward norton ralph fiennes harvey keitel emily watson mary-louise parker philip seymour hoffman anthony heald ken leung frankie faison tyler patrick jones lalo schifrin john rubinstein david doty brenda strong robert curtis brown mary anne mcgarry marc abraham veronica de laurentiis michael cavanaugh madison mason bill duke azura skye stanley anderson jeanine jackson ellen burstyn mary beth hurt james pickens jr. frank whaley tanya newbould katie rich alex berliner tom verica marguerite macintyre elizabeth dennehy william lucking joseph simmons mark moses lisa haley lisa thornhill norman fessler