OK. É o pior.
Resquícios de romance e humanização se foram, tensão de triângulo amoroso também, já que Jacob agora tem um “par” (argh), e tudo o que falta aqui é acabar. Meio que o que rola no último Harry Potter. A função do filme é a da preparação para uma emblemática e vazia escaramuça no lago congelado.
Então Amanhecer Parte 2 se divide basicamente em; primeiro nos mostrar as habilidades vampíricas de Bella; segundo reunir um exército de vampiros de todos os países com uma sensibilidade cultural do nível: duas índias do Brasil e um vampiro do leste europeu chamado Vladimir; e daí sim pôr todo mundo para brigar com a família italiana.
Na abertura, este já adquire um ar de grande épico da série ao trazer uma coisa meio televisiva nos créditos iniciais com uma música retumbante. Mas a surpresa nesse sentido mesmo vem nos créditos finais, que estendem a despedida com a música pop escrita para o filme e um festival de cenas videoclipadas de cada personagem.
Pulando para a batalha em si, antes daquela pegadinha que só quem viveu sabe, é meio surpreendente quão longe Condon vai numa violência gráfica higienizada.
Os vampiros não têm sangue nas veias, a mitologia desse universo traz ares rochosos e de mármore para a sua pele que reluz ao sol. Por isso, cada decepação e quebra vem como um galho seco se partindo. E o jeito de matá-los é parte do modelo clássico. Decapitação. Embora nada de estacas. Informação que pode ser irrelevante mas é essencial para a cena de ação que cai num humor acidental quando se transforma num festival de cabeças arrancadas. O que fica entra o lado triste de ver personagens “queridos” partirem mas ao mesmo tempo é tremendamente engraçado.
Se o filme anterior parecia desprovido de acontecimentos porque era a primeira metade de um livro, o mesmo acontece com esse por ser a segunda metade. Tudo corre muito e logo perde a graça quando se percebe que vai circular sobre esse mesmo eixo pela duração. Problema comum que veio também em Harry Potter e, mais tarde, com o último Hobbit. Atrapalha – em filmes que se baseiam tanto em narrativas quadradas, jornada do herói e essas coisas – aspectos básicos de estrutura. Em vez de chegarem a um ápice dramático, eles são feitos de ápices. O que paradoxalmente acaba nivelando tudo numa narrativa planificada.
Falando bem do MCU pra variar, a Marvel consegue escapar disso na segunda batalha com Thanos quando pesa a mão no drama da perda de meio mundo (meio universo, na realidade) em Vingadores: Ultimato.
Mas antes fosse esse só o problema. Bill Condon simplesmente não tem muita ideia do que fazer, ao que parece. Os impulsos todos são na lógica de ilustrar o livro da melhor forma possível. E se você só trabalha com meio livro fica difícil.
Mas que bom que acabou. Em termos de saga, não é a pior possível, acho que não justifica nem o ódio nem o amor profundo que suscita. Embora esses últimos acabem nos fazendo valorizar a singeleza do primeiro capítulo, dirigido por Catherine Hardwicke.
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the twilight saga: breaking dawn – part 2, eua, 2012
direção: bill condon
roteiro: melissa rosenberg stephenie meyer
fotografia: guilermo navarro
montagem: virginia katz ian slater
elenco: kristen stewart robert pattinson taylor lautner peter facinelli elizabeth reaser ashley greene jackson rathbone nikki reed kellan lutz billy burke dakota fanning jamie campbell bower maggie grace mackenzie foy michael sheen cameron bright chaske spencer myanna buring christopher heyerdahl julia jones booboo stewart andrea powell christian camargo daniel cudmore guri weinberg lee pace rami malek casey labow joe anderson angela sarafyan valorie curry noel fisher tyson houseman lateef crowder charlie bewley billy wagenseller mía maestro wendell pierce omar metwally andrea gabriel judi shekoni tracey heggins patrick brennan marlane barnes toni trucks erik odom amadou ly janelle froehlich masami kosaka alex rice marisa quinn bill tangradi j. d. pardo lisa howard