É um filme que, pensando em desenvolvimento de trama e de enredo, sofre muito por algumas atualizações da refilmagem e por tentativas de justificar de forma mais realista o núcleo pesado de ficção de ciência maluca que circula por baixo de tudo. Um grupo de soldados usados como cobaia para um experimento de hipnose e controle mental. Feito por uma força “maligna”.

O que fazia algum sentido dentro de um cinema ufanista anti comunista nos anos 1960, aqui sofre um processo de adequação sociopolítica do início dos anos 2000. A era Bush filho, pós 11 de setembro, auge de Michael Moore, embalada por American Idiot, do Green Day. O vilão toma formas de uma corporação misteriosa e a dinastia política da vez, embora nunca fale disso, é marcada por uma estetica muito claramente republicana. (inclusive no uso deliberado do vermelho em relação a eles)

Nessa toada, é um filme que sempre parece querer ou precisar nos convencer de seu realismo. Da sua seriedade. Da ameaça real (real mesmo) das relações sórdidas entre a política velha dos Estados Unidos com as grandes corporações. (aqui chamada Manchurian, meio que para justificar o título numa Hollywood um pouco menos xenofóbica que a que lançou o filme antigo)

Nunca é algo que faz muito sentido. Nunca é algo que se explica por completo ou que nos convença de que existe uma justificativa forte o suficiente para o circo tecnológico maligno ao redor disso. Não se entende muito bem o porquê da operação. 

Jonathan Demme, entretanto, tira justo da estranheza e da paranóia o aspecto unificador da sua estética. Por uma organização de planos e construção visual que sempre busca nos tirar dos eixos mas também por se apoiar junto de Denzel numa concepção de um protagonista que não está muito bem da cabeça.

Não só Washington, aliás, como também Liev Schreiber, carregam numa interpretação ao mesmo tempo corporal e apoiada em trejeitos sem perder um lado naturalista, o peso de uma certa confusão mental. Coisa que é intensificada pelo uso de iluminação da fotografia de Tak Fujimoto, que usa a potência das luzes como código do estado dos personagens. Ao passo que o próprio Demme usa muito dos espaços abarrotados e poluídos visualmente como fundamento dessas sensações.

Mas é pela organização dos planos da construção das cenas que o filme traz o seu lado mais incômodo. Disruptando coisas simples como, em cenas de diálogo, usando uma centralidade incômoda. Colocando os personagens isolados no meio da tela ao invés de usar a regra dos 180 graus padrão que decupa os diálogos a partir de enquadramentos em lados opostos. 

São recursos clássicos, de certa forma. Muito simples até. Mas que conseguem fazer a parte mais difícil, que é sintetizar uma sensação que costura o filme. 

Ainda que a parte narrativa por si não colabore para que Sob o domínio do mal funcione por completo. Seja porque nunca assume o lado teórico da conspiração mais biruta de sua premissa, seja porque não consegue transfigurar isso em algo completamente sério.

the manchurian candidate, eua, 2004
direção: jonathan deme
roteiro: richard condon dean georgaris daniel pyne
fotografia: tak fujimoto
montagem: craig mckay carol littleton
elenco: denzel washington liev schreiber meryl streep vera farmiga kimberly elise jon voight bruno ganz simon mcburney jeffrey wright david keeley dean stockwell jude ciccolella ann dowd ted levine miguel ferrer charles napier tom stechschulte pablo schreiber anthony mackie robyn hitchcock obba babatundé zeljko ivanek adam lefevre jose pablo cantillo beau sia david neumann joshua elrod tymberly canale marin ireland shing ka roger corman joey perillo sakina jaffrey robert w. castle bill irwin paul lazar al franken tracey walter sidney lumet fab 5 freddy edwidge danticat kenneth utt joe alessi

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