É um filme que se apoia muito na simplicidade de uma proposta que abertamente vem “homenagear” um cinema de aventura e comédia similar dos anos 1980 e 1990. Principalmente tomando como base Tudo Por Uma Esmeralda e mesmo o lado mais bem humorado da série Indiana Jones.

Cidade Perdida, entretanto, encontra a sua âncora não numa pretensa originalidade de premissa ou de ambientação, mas no talento absoluto de gente como Sandra Bullock, Brad Pitt, Daniel Radcliffe e, um tesouro do cinema contemporâneo, Channing Tatum.

A obra não tem, e nem quer ter, um desenrolar do enredo, do universo, da história contada, muito original. Muito por que a estrutura se dá mais numa tapeçaria de esquetes que abusam da comédia física ou de diálogo que se fecham em situações ensimesmadas que ora brincam com clichês e convenções estética, ora simplesmente são engraçadas por uma lógica completamente pueril do pastelão.

Adam e Aaron Nee, longe de serem reencarnações de Keaton, Tati ou irmãos Zucker, não necessariamente fazem uma comédia de artesão, mas sabem muito bem lidar com a simplicidade de bons intérpretes nos espaços certos ou com a roupa certa. A graça vem da situação e, embora não seja nada elaborada, encontra o poder nas coisas mais simples. 

O que Sandra Bullock faz com um macacão de paetê ou a tentativa dela em lidar com um banco alto ou se desamarrar de uma cadeira, por exemplo. 

O filme tem sua cota bem distribuída de tiradas muito bem lapidadas, muito espertas, muito contemporâneas de um humor perspicaz. O diálogo sobre mansplaining (“eu sou uma mulher, eu não posso fazer mansplaining”), por exemplo. Mas ele brilha mesmo é quando é simplesmente bobo. (“como você sabe que ela está num avião?” “porque ela não consegue nadar tão rápido”)

Dentre as aplicações mais físicas dessa tolice deliberada, os exemplos se acumulam no tamanho do carro, no clichê das sangue sugas num rio, na cena em que uma porta de hangar se abre em frente a uma mesa decorada. 

Funciona muito, no fim das contas, porque é um filme que carrega um tom de celebração de uma arte de atrações. Comentada, inclusive, pelo próprio discurso que Tatum faz quando defende os livros da protagonista. Numa ideia de que talento e capacidades artísticas podem e devem ser aplicados em formas populares de arte. 

(se não por que fazer arte?)

Cidade Perdida carrega esse sentimento e, colateralmente, mesmo sem pretensões de fazer um cinema de qualquer forma elevado, se destaca num cenário comercial porque entende esse poder pra além das capacidades mercantis de filme enquanto produto.

the lost city, eua, 2022
direção: adam nee aaron nee
roteiro: dana fox seth gordon adam nee aaron nee oren uziel
fotografia: jonathan sela
montagem: craig alpert
elenco: sandra bullock channing tatum daniel radcliffe brad pitt da’vine joy randolph patti harrison oscar nunez héctor aníbal thomas forbes-johnson adam nee raymond lee katherine montes danny radhames vasquez castillo bowen yang sli lewis olga bucarelli omar patin anthony alvarez ryan orr alex schoenauer edwin polanco marcy jarreau cynthia oroz carolina rohana jonathan lev toussaint merionne luinis olaverria emerson gonzalez wilson ureña roger wasserman stephen lang ryan judd zachary steel marcos sánchez

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