Tem qualquer coisa de intrigante na forma como a diretora simplesmente abandona qualquer tipo de dispositivo que pudesse organizar o desenrolar da história dessas personagens.
Quer dizer, fora a exposição clara que vai nos revelar a ligação entre as duas no final do filme. Mas funciona na maior parte do tempo.
Se ela buscava concretizar esse tema, esse sentimento da relação com o mar e da importância de seus simbolismos e de sua materialidade e fisicalidade, ela consegue fazê-lo. A narração final, contraposta com o nado, deve ser a melhor cena que sai disso.
Isso faz com que o espectador monte na cabeça todas as conexões a partir das pistas deixadas até ali. Um momento de amarração temática, emocional e até mesmo lógico por esclarecer de vez tudo.
Ainda assim, certos tropeços são um bocado incômodos para deixar de lado. Fora a banalidade da forma como ela apresenta as amas japonesas (um cara fala sobre e o filme de repente ganha esse aspecto documental dos depoimentos), mulher oceano parece confiar demais nos diálogos que são menos naturalistas do que deveriam.
(sem contar as referências/cópias da experiência da branca em Tokyo que parecem simplesmente seguir o caminho de Encontros e Desencontros)
Mais que isso, a narração que funciona tão bem no final sempre parece tão rudimentar ao fazer as suas reflexões ao longo do filme. (tipo, você não tem mais nada para dizer sobre o mar além da profundidade oculta e da selvageria das ondas?)
No fim, Sganzerla meio que carrega o próprio filme mais enquanto atriz que enquanto diretora. Isto quando o filme abandona seu lado simplório e confia na performance dela em cenas que parecem ser sobre nada. Mas que dizem mais que todo resto.
mulher oceano, brasil, 2020
direção: djin sganzerla
roteiro: djin sganzerla vana medeiros
fotografia: andré guerreiro lopes
montagem: karen akerman
elenco: gustavo falcão djin sganzerla jandir ferrari stênio garcia nakazeko mie lucélia santos nakamura sayuri nakayama shigeyo matsui sumiko kentaro suyama uemura yoshino rafael zulu helena ignez